De tanto olhar não consigo ver nada.



Como lutar, se é que posso empregar essa palavra, em um tempo onde as relações estão fragmentadas? Não é unindo que se constrói ou destrói algo? não mais? Como mudar um todo quando os componentes que outrora moviam esse todo não se importam mais? Como lutar contra algo que é invisível e até inexistente? Gritar não adianta mais. Bandeiras tremulantes e mártires não funcionam mais. Serviram por grande parte de nossa história, mas hoje os heróis são invisíveis e românticos demais pra realidade. Heróis foram abraçados pelo entretenimento e se tornaram parte de algo que passou. É bonito de ver na ficção, e hilário de se ver na realidade. Talvez o herói esteja escondido, disfarçado, como superman, esperando a hora certa para agir. Talvez o herói tenha arrumado um emprego, se casado, tido filhos, engordado (não que seja um problema engordar tá? Longe de mim agredir alguma minoria ((não! Calma! Eu não quis dizer que era minoria não, é que...))), e cansaram de todo esse altruísmo, que hoje é cafona e démodé. Não é uma falta de esperança, mas sim tentar compreender a nova ordem. Não insista... Levantar o punho com a mão fechada e bravejar por justiça não funciona mais, soa performático, panfletário e não que haja problemas com essas características, mas é que hoje em dia quando mais se grita menos se ouve.
Aparentemente essa nova forma de "lutar" se dá no "in"; invisível e na imaterialidade, informalidade.
Prefixo In: privação ou negação, movimento para dentro, sentido contrário.
Sentido contrário! Retroceder, Retornar. Vivemos o "dobrar-se" sobre nós mesmos. Talvez (sempre falarei no talvez) como em um corredor sem saída dentro de um labirinto. Chegamos até aqui seguindo uma forma de pensar e o que nos resta é bater de frente com a parede e retornar para nos perder de novo. Nos perder. Estamos perdidos. Minhas mãos alisam a parede em busca de uma porta. Sorte de Alice que podia comer e diminuir para poder entrar na minúscula porta. Sorte dessa garota que tinha uma porta. Minhas mãos tateiam essa parede que me impede de seguir, seguir pra onde mesmo? Pra que tenho que seguir? Talvez estivéssemos errados quanto a linha reta, talvez devêssemos ser sinuosos, girar em círculos, dobrar a linha em curvas inúteis e...Curtir o caos e o fim do que talvez nem tenha começado, ou começo de um fim que não terminou. Meus olhos tateiam, meus grandes,esbugalhados, esfomeados e sedentos olhos deslizam pela aspereza de um plano, de uma tela, de um possível fim, buscando algo para me distrair, que me faça feliz e que me faça esquecer. Meu olho olhou tanto que de tanto olhar não conseguiu ver nada.
Felipe Damasceno.

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