Um Pai Alheio.



Hoje, fora do território fortalezense, tive lições de pai alheio. Sim! Uma criança de ar angelical perguntava sobre os benefícios do karatê em sua vida, de uma maneira tão ingênua e doce que até me assustou, afinal hoje em dia a infância se tornou palavra pejorativa.



O fato é que paternidade nunca foi algo que me animasse, sempre foi algo confuso para mim. Minto, sempre! É exagero, lembro-me de quando era criança que aguardava ansiosamente a chegada de meu pai do trabalho. Ele sempre trazia um doce, sei lá como se chamava aquilo, era uma caixinha com uma espécie de m&m's. Gostava também de ver ele e minha mãe consertando alguma coisa, limpando o ventilador, reforrando o sofá (sim, pois o sofá lá de casa era encapado com uma nova estampa cafona todo ano) e adorava, me divertia quando eles brincavam de brigar e xingar-se mutuamente, era a maneira deles de dizer que se gostavam. Adorava quando aparecia um rato dentro de casa, e minha mãe louca subia nos móveis com um cabo de vassoura dizendo que só dormiria se matasse o infeliz. Divertia-me vendo eles com vassouras atrás do pobre coitado. Fui obrigado um dia a matar o rato. Neguei. Eles me olharam estranho. rsrs!



Com relação ao meu pai existem coisas desagradáveis que se fosse escrever, poderia criar um blog novo. Sempre me lembrarei de quando ele, já notando a minha diferença com relação aos outros garotos, ou seja, da minha homossexualidade, me obrigou a beijar a televisão, onde passava aqueles programas de auditório com mulheres de biquíni esfregando a bunda na câmera. Acho que neguei. Minha mãe ficou calada. E eu não o culpo, afinal era a maneira de ele corrigir o que acreditava ser um desvio moral.



Tinha uma cadela, ela se chamava Lili. Adorava ficar com ela. Era minha companhia das tardes em casa, deitava e pra assistir televisão ela colocava a cabeça na minha lombar como se fosse uma almofada. Era uma festa quando minha mãe chegava do trabalho, latia e pulava e corria. Os portões se abriam e eu podia sentir o lado de fora do mundo. Eu e a Lili. Ele chutava ela, chutava a Lili sempre a noite sempre que ela latia, sempre que ela não latia, antes de dormir quando ia na geladeira. Ela olhava pra ele com medo, e vi o medo quando era criança e via nos olhos de minha cadela, ela diminuía de tamanha todas as vezes que ele aparecia. Eu não fazia nada. Eu nunca fiz nada. Ficava calado, quieto, de cabeça baixa, como minha mãe, como a Lili. Daí em diante comecei a temê-lo, a odiá-lo e essa raiva crescia, e crescia e crescia que ficava com raiva do nada, imaginava-me batendo nele, arrastando ele pela rua. E essa raiva cresce e cresce e cresce e imagino-me arrastando-o pela rua.


A Lili morreu envenenada. Não creio que tenha sido ele. Nunca pensei na verdade e acho que não foi. Amava animais. Hoje os aceito. Mas não os quero mais comigo, como companhia.


Criei amigos que hoje tenho pouco ou quase nenhum contato. Amigos esses que me deram a base do que sou hoje, mas hoje sou outro... Outro que as vezes nem sei e que talvez eles estranham.


O fato da mãe da ''L'' abraça-la sempre me assustava, achava esquisito quando ela dizia que falava de tudo com ela, até de sexo. Percebi ai que a minha família era uma pouco diferente. Acostumei-me. De resto era isso, não que aquele dado momento fora de Fortaleza tenha trazido tudo isso, ou trouxe sei lá!. Só sei que achei lindo aquele pai. E eu achando que essas coisas só tinham em filmes de comédia romântica americana de dia dos pais.

Um comentário:

lili luz disse...

Bee sua cachorrinha com meu nome!!! Fiquei emocionada lendo esse post! bjo grande

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