A dor do meu seio esquerdo.

 Meus seios doem, sinto-os pesando cada vez mais. Sinto meus seios puxando-me para um lugar que desconheço, que até então me era proibido conhecer... Até hoje. Sinto-me usada como uma revista pornô, como se tudo fosse isso. Como se tudo girasse em torno disso. Um grande falo onde minha vagina orbita ininterruptamente.

Meus seios ainda doem. Não os toque, por favor.

 Em todos esses anos de vida nunca pude imaginar que eles cairiam, nunca imaginei que meu rosto se tornaria isso que se tornou. Não me sinto a mesma... Não sou a mesma. Onde esta Isabel com seus 15 anos? Por que tudo é tão rápido? Por que não falo a língua dos tempos atuais? Por que não enxergo direito? Por que tenho medo?

Eu já lhe disse para não me tocar.

Sinto toda minha carne doendo, sinto todas as dores de dentro pulsando fora de mim. Sinto meus dentes caindo e fedendo. Passo minha mão nos meus cabelos e meus dedos engancham, não os sinto direito, pois são poucos.... Poucos como os minutos de um dia que passam de uma maneira que desconheço. Eles sempre passaram assim? Nessa velocidade?

Que dor de cabeça. Me deixa em paz.

Quero ser desenhada de novo, ser refeita e reconstruída. Uma nova Isabel. Uma Isabel feliz, amada, e bela, como nos comerciais da Garnier, ou das propagandas do Renew anti-idade. Quero ser fantástica.  Quero ser mais eu.

Estou só e meus seios ainda doem.

Eu ainda espero aquilo que todos esperam quando chegam onde cheguei. Quando se chega aqui não é fácil esperar como eu espero. Eu não quero deixar de esperar.

Nunca imaginei que poderia sentir dores nos ossos. São como se estivessem gelados e vivos mexendo-se em pequenos movimentos dentro da carne, criando espaço entre a carnes e eles. É este o lugar da dor... No Entre. No “entre” por que ela não me deixa em paz a ponto de poder viver a vida das pessoas que vivem dentro da caixa brilhante, e não consome meu corpo por completo até a finalização de minhas funções. Até parar de funcionar. Não me imagino parando de funcionar... Será que alguém vai sentr falta de mim? Será que o homem da padaria vai sentir falta se eu não for mais lá comprar minhas sopas instantâneas as seis e meia da noite depois do trabalho? Será que os que me tocaram sentiram falta dos meus seios, como: Isabel morreu?  Nossa!  Que belo par de peitões?

Continuo aqui deitada, esperando aquilo que todos esperam nessa idade, com meus seios debruçados sobre minhas costelas, olhando para o teto. Esperando minha novela favorita. 







Mais obras: Artista Plástico Jonathan Yeo
Texto: Felipe Damasceno.






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