Meus seios doem, sinto-os pesando cada vez
mais. Sinto meus seios puxando-me para um lugar que desconheço, que até então
me era proibido conhecer... Até hoje. Sinto-me usada como uma revista pornô,
como se tudo fosse isso. Como se tudo girasse em torno disso. Um grande falo
onde minha vagina orbita ininterruptamente.
Meus seios ainda doem. Não os toque, por favor.

Eu já lhe disse para não me tocar.

Que dor de cabeça. Me deixa em paz.
Quero ser desenhada de novo, ser refeita e reconstruída.
Uma nova Isabel. Uma Isabel feliz, amada, e bela, como nos comerciais da
Garnier, ou das propagandas do Renew anti-idade. Quero ser fantástica. Quero ser mais eu.
Estou só e meus seios ainda doem.

Nunca imaginei que poderia sentir dores nos ossos.
São como se estivessem gelados e vivos mexendo-se em pequenos movimentos dentro
da carne, criando espaço entre a carnes e eles. É este o lugar da dor... No
Entre. No “entre” por que ela não me deixa em paz a ponto de poder viver a vida
das pessoas que vivem dentro da caixa brilhante, e não consome meu corpo por completo até a
finalização de minhas funções. Até parar de funcionar. Não me imagino parando
de funcionar... Será que alguém vai sentr falta de mim? Será que o homem da
padaria vai sentir falta se eu não for mais lá comprar minhas sopas instantâneas as seis e meia da noite depois do trabalho?
Será que os que me tocaram sentiram falta dos meus seios, como: Isabel morreu?
Nossa! Que belo par de peitões?

Mais obras: Artista Plástico Jonathan Yeo
Texto: Felipe Damasceno.
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