O sono durou 165 anos. Após ter destruído minha coluna
vertebral em um acidente que não me lembro bem, fui conservado durante todo
esse tempo, não envelheci um dia e despertei com parte de meus amigos do século
21 ao meu redor. Um deles me trouxe uma armadura que envolveu meu tronco para
que pudesse andar novamente. Parecia que tinha tirado um cochilo, um breve
cochilo.
Acordei assustado perguntando por quanto tempo tinha
cochilado, e um deles me respondeu que dormi durante quase dois séculos. A
primeira pergunta que me veio foi se a minha mãe ainda estava viva, e tive como
resposta que não, de alguma maneira a visão aérea do dia da morte de minha mãe
estava registrada em uma espécie de celular de um desses amigos. No vídeo ela
tinha sofrido algum problema de saúde um uma ambulância que à levava
apressadamente para o hospital (os carros ainda estavam presos ao chão, ou
seja, fazia muito tempo que isso tinha ocorrido) quando e uma curva a
ambulância capotou e fechou a rua após isso a câmera do vídeo que assistia
focou em um homem com capa que tinha planejado tudo aquilo para impedir o livre
fluxo da rua por algum motivo, na ambulância capotada minha mãe morreu. Fiquei
sem ação em ver aquelas cenas. Tudo estava muito confuso. Como aquilo podia ter
sido gravado? Parecia filme policial, novela.
O quarto era simples, rústico devo acrescentar. Questionei-me:
Que diabo de futuro é esse? Será que em quase dois séculos não houve nenhuma
mudança? Por que eles estão imóveis diante de mim?
A armadura me acoplou a meu corpo. Era uma barra metálica
com braços frios, a frieza do metal, como que simulando uma coluna e suas
costelas. Ela abraçou-me e sumiu, como se minha pele tivesse a absorvido e
então me movimentei, me levantei.
Agora tinha 83 anos com corpo de 22 e maturidade de 22, pois
todos os 61 anos eu tinha dormido. Saltei no tempo e permaneci o mesmo. Não
sabia o que era, não sabia mais quem era, muito menos onde estava.
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