Fuga dos meus metros quadrados

Precisava sair, precisava ver esse mundo que já foi meu e hoje não é mais. Vivo hoje buscando os por quês das relações humanas, por que do mundo ser como é, por que das pessoas serem com são. Bebi como quem bebe água na tentativa de falar a língua deles, na tentativa de me inserir num mundo que não me pertence mais. Queria ver gente, queria lembrar de como era estar com várias pessoas sem ser pessoas que talvez já conheça. Encontrei pessoas, abracei pessoas, ri com e das pessoas.
Me senti só, e subitamente decide sair de casa, queria ter trazido alguém para mim, alguém que eu pudesse fazer o café pela manha, mas não sei mais falar a língua deles, e talvez nem queira. Quero mais é fugir dessa porra toda, quero mais é me sentir livre como os mendigos são. O mendigo é livre por que não cumpre horários, paga um preço caro de não ter comida nem onde viver, mas é livre.
Uma buceta de angústia que de tão grande não pode ser descrita em palavras, descrita como um eletrocardiograma, é maior e se dá na solidão de meus poucos metros quadrados.
O mundo é tão grande, mas quero algo que ainda não sei, algo que nem um homem conhece. Quero um outro tempo, uma outra dimensão que para ninguém pode tornar-se real. Quero viver as imensas possibilidades do tempo, quero ser livre da cronologia do universo, da obrigatoriedade do instante presente e exato. A vida me parece tão pouco para o tanto que posso ser. Eu sou um deus, uma divindade suprema instalada nesse mundo medíocre, amarrado pelas cordas do tempo, do espaço, da maldita matéria.
F.D.

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